E-mail: blogdofoguinho@hotmail.com

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Comissão da Câmara aprova redução da idade penal para crimes violentos

Weverton Rocha ainda consegue aprovar emenda que garante na Constituição políticas de ressocialização.

Pedro Ladeira/Folhapress/ Grupo protesta em Brasília contra proposta que reduz maioridade penal; comissão da Câmara aprova redução em caso de crimes violentos
Pedro Ladeira/Folhapress/
Grupo protesta em Brasília contra proposta que reduz maioridade penal; comissão da Câmara aprova redução em caso de crimes violentos
RANIER BRAGON
FOLHA DE SÃO PAULO.

Debaixo de muita polêmica e com uma troca de sala de última hora para escapar de manifestantes, a comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou na noite desta quarta-feira (17) o projeto que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos, no caso de crimes violentos.
Em uma sessão de quase cinco horas, fortemente protegida pela Polícia Legislativa e com acesso permitido apenas a deputados, assessores e imprensa, a comissão aprovou o relatório por 21 votos a 6.
Só PT, PC do B e PDT ficaram contra.
O texto é assinado pelo deputado Laerte Bessa (PR-DF), o relator da comissão, mas seu conteúdo final tem como reais patrocinadores o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e a bancada do PSDB, especialmente os deputados Carlos Sampaio (SP) e Jutahy Júnior (BA).
Cunha e tucanos fecharam acordo para derrotar o PT e o governo Dilma Rousseff, que são contra a redução da maioridade penal no país.
Com a aprovação na comissão, que era dominada pelas bancadas da bala e religiosa, o texto segue agora para votação no plenário da Câmara, provavelmente no próximo dia 30. Para ser aprovado, é preciso o apoio de pelo menos 60% dos deputados (308 de 513). Caso isso ocorra, segue para análise do Senado.
O texto aprovado tem o objetivo de alterar a Constituição para reduzir a maioridade penal de 18 para 16 anos para os seguintes crimes: hediondos (como estupro, latrocínio, falsificação de medicamentos e prostituição de crianças e adolescentes) ou equiparados (tráfico de drogas, tortura e terrorismo), homicídio doloso (quando há intenção de matar), roubo qualificado (quando há uso de arma de fogo ou quando é praticado por duas ou mais pessoas, entre outros pontos), lesão corporal grave e lesão corporal seguida de morte.
O projeto que serviu de base para o acordo, do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), estabelecia que caberia ao Ministério Público avaliar, em cada situação e a depender do crime, se o jovem de 16 e 17 anos é passível de ser julgado como adulto (Código Penal) ou continuar sob o Estatuto da Criança e do Adolescente, cuja pena máxima é de três anos de internação.
Entretanto, conforme já havia sido acordado entre Cunha e os tucanos, a redução da maioridade será automática para crimes violentos, sem que haja necessidade de concordância do Ministério Público. Ou seja, caberá aos promotores denunciar ou arquivar o caso de jovens que cometam esses crimes com base no Código Penal.
O texto aprovado determina ainda que os jovens de 16 e 17 anos cumpram pena em unidades distintas das dos presos adultos e também das dos adolescentes infratores menores de 16 anos. União e Estados ficarão responsáveis em construir esses estabelecimentos. Não há, porém, prazo nem regras para que isso ocorra, nem consequências para eventual descumprimento.
Não haverá, como Cunha havia sugerido, necessidade de que as mudanças sejam aprovadas pela população em referendo. Após aliados se colocarem contra, o presidente da Câmara desistiu da ideia.
A comissão aprovou ainda uma emenda do deputado Weverton Rocha (PDT-MA) que inclui na Constituição a determinação genérica de que o Estado instituirá políticas públicas de ressocialização de adolescentes, com a destinação de recursos específicos que não poderão ser congelados.
A aprovação da redução da maioridade penal foi criticada por Daniel Wilkinson, diretor para as Américas da ONG Human Rights Watch. Para ele, caso o projeto seja aprovado nas próximas instâncias, será “um grande retrocesso para a proteção dos direitos das crianças”, que deve colocar em risco os esforços para diminuição da criminalidade.
“Nos Estados Unidos, um dos poucos países que trata adolescentes como adultos, vários estudos têm mostrado que processar e julgar adolescentes como adultos só aumenta as chances de cometerem novos crimes”, completou Wilkinson, em nota divulgada.
LASCA
“Um homem de 16 anos é capaz de entender o que é certo e o que é errado. Quero dizer para vocês que nesse século 21 não podemos dizer que um menor de 16 anos é inimputável, isso é absurdo”, discursou Laerte Bessa, acrescentando: “Minha convicção não é baixar de 18 para 16 anos só, eu queria pegar mais, queria pegar mais uma lasca desses bandidos que muita gente quer proteger porque nunca esteve na rua para enfrentar bandidos e delinquentes dessa natureza.”
O deputado-relator, que fez carreira como delegado da Polícia Civil, citou principalmente o caso da participação de menores de 18 anos no estupro coletivo de um grupo de adolescentes no Piauí. Uma delas acabou morrendo. O caso também foi citado por outros parlamentares favoráveis à redução.
“A meu ver o que estamos fazendo é um agravamento do problema. Nos países em que houve essa redução da maioridade penal, no momento estamos vivendo uma inversão porque não se obteve uma redução da criminalidade, ao contrário”, discursou a deputada Margarida Salomão (PT-MG).
“Se vocês estão querendo atender ao discurso dos locutores de rádio, o discurso de delegados, lembrem-se: Jesus Cristo foi crucificado devido ao clamor das ruas. Se vocês estão com tanto medo da rua, lembrem-se: daqui a quatro anos vai continuar tudo a mesma coisa, vocês estão vendendo à população algo que vocês não vão entregar”, reforçou o deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS). Ele é dissidente em sua bancada nesse tema.
Petistas e governo tentaram barrar a medida declarando apoio às propostas dos tucanos Geraldo Alckmin (SP) e José Serra (SP) de elevação do tempo máximo de internação dos menores infratores. Mas os deputados do PSDB preferiram fechar um acordo com Cunha em prol da redução.
Contrários à redução argumentam que a medida será considerada inconstitucional por, entre outros pontos, mexer em trechos da Carta Magna que não podem ser alvo de emenda.
Os partidos de esquerda reclamaram ainda que Cunha paralisou as votações em plenário na tarde e início da noite desta quarta para permitir a aprovação do relatório. Pelas regras da Câmara, a abertura das votações no plenário encerraria automaticamente todos os trabalhados das comissões.
PROTESTOS
Despistados com a troca de sala feita de última hora e barrados pela Polícia Legislativa, os manifestantes ficaram no lado de fora da sala, mas fizeram algum barulho durante a sessão. Do lado de dentro era possível ouvir apitos e gritos de “fascistas”.
Os protestos foram organizados principalmente por estudantes da UNE e da Ubes, as entidades representativas de estudantes universitários e do ensino médio, respectivamente. Levada por parlamentares de esquerda, as presidente da Une, Carina Vitral, e da Ubes, Bárbara Melo, conseguiram entrar.
Na sessão da semana anterior, bate-boca entre os estudantes e deputados da bancada da bala acabou em confronto, com o uso de spray de pimenta dentro da sala em que era realizado o encontro.
Após a aprovação, deputados da bancada da bala saíram da sessão entoando em coro o bordão “eu sou brasileiros, com muito orgulho, com muito amor”. Com ajuda da polícia, eles passaram pelos manifestantes e entraram no plenário da Câmara no momento em que Eduardo Cunha abria a sessão do dia. O protesto continuou por alguns momentos, sob o olhar do presidente da Casa.

0 comentários em “Comissão da Câmara aprova redução da idade penal para crimes violentos”

Postar um comentário

https://www.facebook.com/pages/Blog-do-Foguinho/217621605048826?ref=hl
 

BLOG DO FOGUINHO Copyright © 2011 -- Template created by O Pregador -- Powered by Blogger