"A coisa mais importante dos brasileiros é inventar o Brasil que nós queremos"
(Darcy Ribeiro)
Por Eduardo Braga Jornalista
A mesma sociedade que outrora foi às ruas na mais bela manifestação popular da história brasileira exigir seu direito de escolher o presidente da República, aplaudiu a tutela do eleitor com os dispositivos da lei "Ficha Limpa". Essa mesma sociedade, que aplaude a ministra Eliana Calmon quando ela afirma que há "bandidos de toga" no poder Judiciário, defende que se coloque nas mãos deste poder, o único que não se submete ao voto popular, a decisão de quem pode ser candidato nas eleições gerais.
Perdoem-me, mas não é assim que se vai limpar a política. É preciso um movimento de baixo pra cima, uma mudança cultural, uma renovação das práticas. É necessário compreendermos que a crítica que fazemos à tal "classe política" é na verdade uma auto-crítica à própria sociedade.
É necessário levar os ataques à corrupção da retórica para a prática, aproveitar a campanha que se aproxima para fiscalizar, denunciar e combater a corrupção eleitoral, mal que agride a vontade popular e desvia o nosso caminho.
Nesse desafio, reduzir a influência da máquina pública e do poder econômico no processo eleitoral são condições para evitarmos as deformações que vive a nossa democracia. Não dá pra falar em mudança real fazendo política baseada no escambo entre dinheiro e voto.
Em condição social subalterna, a maior parte do eleitorado vive obrigado a resolver diariamente suas necessidades mais básicas e urgentes antes de poder discutir programa político com quem bate a sua porta com a solução do problema daquele dia, mas a perpetuação do problema por gerações. É assim que esse ciclo vicioso se retroalimenta e mantém o status quo com o povo no papel de vítima e de vilão.
Quebrar este ciclo é tarefa de quem defende a democracia e quer construir uma sociedade justa e solidária, formada por cidadãos emancipados e livres. Os avanços sociais experimentados no Brasil na última década têm que ser aprofundados e levados a cada povoado distante, as escolas, as famílias e a igrejas devem formar cidadãos críticos e conscientes, os partidos devem representar projetos políticos claros e não interesses menores ou coeficientes eleitorais mais fáceis.
Em vários sentidos, o Brasil ainda me parece um país por se construir e não podemos nos omitir.